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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Minha luta!

Por dezessete anos (quase dezoito) me disseram que Deus e o Diabo estão numa eterna luta, presos numa rivalidade que simplesmente não tem fim e que nós, meros seres humanos, estamos no meio do campo de batalha. Insinuaram que éramos apenas bonecos pré-programados pra escolher um dos lados e dar o melhor de si para o seu exército. Por muito tempo acreditei nessas informações e, tomando-as como verdade absoluta, escolhi o meu lado e por ele guerreei. Todavia, como se de repente abrisse os olhos, vi que o que eu considerava e apregoava como justo não era exatamente esse mar de rosas e que talvez meu general não estivesse tão certo quanto eu gostaria de acreditar que ele estava. Não suportei as atrocidades que via meus companheiros cometerem e então deixei o time.
Fiquei por mais um tempo sem ter para onde ir, sem saber o que fazer, apenas ouvindo os gritos de horror e também a exaltação de cada exército a cada chacina que cometiam. Nenhum deles parecia estar indo pelo caminho certo e ambos tinham seguidores que pareciam tão cegos e obcecados com aquela guerra que já não podiam mais ver o sentido de lutar, fazendo-o apenas pelo prazer da vitória. Perguntava-me como poderia um ser onipotente e tão sublime como Deus estar metido em tal coisa, parecendo demonstrar exatamente o oposto de sua grande sabedoria. Claro que pelo que ouvimos poderíamos esperar isso do Diabo, mas Deus era apenas amor, no entanto não era aquilo que eu estava vendo. Foi então que eu entendi e pude ver: haviam me enganado o tempo todo. Não havia Deus ou Diabo lutando, apenas humanos convictos de que seus ideais fariam o mundo melhor e sedentos de reconhecimento de sua superioridade inventada. Pessoas como nós que esculpiram sua moral falha e fizeram o possível para impô-la a todo ser vivente, como se ela representasse a plenitude incontestável e inabalável da perfeita e almejada ordem social.
Por dias e noites meditei sobre tudo aquilo e meu mundo desmoronou diante dos meus olhos. Mentiram pra mim, disseram tantas coisas que não eram verdades e me mostraram um Deus tão humano e falho quanto eu. Mas eu não podia me render, não podia simplesmente ignorar o terror que acontecia fora do meu mundo particular e me excluir do universo comum. Então, como se fôlego de vida fosse soprado em mim, eu me reergui e voltei a lutar, só que dessa vez com um objetivo diferente. Desde então mantenho meu ideal e minha batalha infindável contra o mal que se encontra dentro de mim.
Luto não mais contra alguém, mas contra tudo aquilo que me faz querer regredir. Luto contra os olhares preconceituosos que às vezes lanço a algumas pessoas, contra as palavras maldosas que eventualmente possam sair da minha boca e dos sentimentos prejudiciais que eu possa estar cultivando dentro de mim. Luto contra a idéia de superioridade na qual por tanto tempo me fizeram acreditar, contra a intolerância em relação aos pensamentos diferentes dos meus. Mais ainda, luto para acreditar cada dia mais no amor e nas coisas belas que a humanidade pode fazer, a despeito de todos os males que já tenha causado ao longo da história. Luto para ter fé e ver um mundo melhor, perfeitamente atingível, onde todos se respeitem mais e as diferenças apenas componham um vasto leque recheado de belezas culturais. Luto para ter forças para continuar a lutar por aquilo em que minha luta me faz crer, para ser o melhor que posso e ajudar as pessoas a se tornarem também o melhor de si mesmas, assim como elas também me ensinam muito todos os dias.
Contudo, ainda não consigo deixar de me questionar se a minha luta não está indo pelo lado errado e se um dia eu não serei julgado por isso. É, talvez eu realmente esteja muito enganado e devesse somente ter permanecido naquela antiga batalha. Mas, assim como eles, quero também ter o direito de lutar pelo que acredito ser importante e se isso não for o bastante, acho que no fim das contas eu apenas falharei. No entanto, como muitos dizem, falharei sabendo que tentei e jamais me renderei, tampouco lutarei numa guerra que para mim não tem o menor sentido. Afinal, a minha luta é e sempre será, a partir de agora, contra apenas um inimigo: eu mesmo!