Dezessete anos, estatura média, cabelos claros e olhos negros como a noite. Assim era William, um garoto diferente dos outros e cheio de dúvidas a respeito de tudo. Sua mente era um mistério até mesmo para ele. Talvez fosse louco, isso não se sabe. Mas algo o intrigava a um nível mais profundo.
Desde pequeno morou na mesma casa e sempre houve uma porta que nunca fora aberta. Não sabia o porquê e tampouco lhe importava o que havia por trás dela, embora às vezes batesse aquela curiosidade. Mas isso se sucedeu apenas até que ele completasse quinze anos. Foi nesse momento que as questões começaram a brotar e o mundo inteiro se tornou um mistério a ser desvendado. Nada mais lógico, então, do que se perguntar o que haveria atrás daquela porta.
Contudo, mesmo querendo descobrir os segredos mais profundos jamais revelados, tinha medo do que isso acarretaria. Aliás, temia com todo o coração para onde as respostas o levariam. O que poderia acontecer quando soubesse o resultado da equação? E será que a conta estaria sendo feita corretamente? Existia a possibilidade de a fórmula estar errada. Mas se assim o fosse, quais seriam as conseqüências?
Não sabia e tinha pavor de se arriscar a somar os números. Morria de medo de tropeçar, se perder no caminho e quando percebesse o erro fosse tarde demais para reverter a situação. Porém, não teria que abrir aquela porta para poder saber o que havia ali dentro? Não seria ele o único capaz de encontrar o x e o y de tudo isso? Bom, poderiam até encontrar para ele, só que isso ainda não o daria a certeza de que o raciocínio estava correto.
A porta era tão bela, tão atraente e tão diferente. Não era extravagante. Pelo contrário, era uma das portas mais discretas que William já vira em toda sua existência. Tanto que muitas pessoas que freqüentavam sua casa nem percebiam a existência dela, mesmo passando dezenas de vezes no corredor em que esta se encontrava. Bom, na verdade a porta só era importante para William.
Um dia perguntou aos seus pais sobre o que havia por trás dela e a resposta foi definitiva. “Existe isso, meu filho”, disse sua mãe com toda a certeza. Mas o garoto não se contentava com a resposta, pois era extremamente determinista e pouco provável. Pelo menos muito improvável para a mente confusa de um menino de dezessete anos que se encontrava no estado de William.
Fez diversas pesquisas sobre portas estranhas e muitas delas mostraram universos de possibilidades. Mundos onde tudo era possível e o limite totalmente inexistente. Mas ele achava que tudo aquilo era fantasioso demais e várias vezes se dava por vencido, concluindo que sua mãe tinha razão. Questionou sobre a localização da chave, mas ninguém sabia. Pelo visto estava sozinho nessa jornada. Não porque as pessoas não quisessem ajudá-lo, afinal muitas tentavam. O problema é que nenhuma conseguia dar-lhe uma certeza e as dúvidas cresciam a cada dia.
Aos dezesseis anos algo lhe chamou ainda mais a atenção. Após certo evento que, de início, o traumatizou, começou a ouvir vozes que vinham de dentro dele e tentavam explicar onde a chave estava. Mas as letras pareciam soltas e ele não conseguia juntar as palavras. Tudo era ainda mais confuso e o mundo havia virado uma bagunça. Sentia-se olhando para uma pintura abstrata onde não conseguia achar uma opinião sobre a obra. As interpretações eram muitas, se ligavam em diversos pontos, mas nunca davam a resposta.
E assim as coisas foram acontecendo. Toda a confusão durou pouco mais de um ano. E foi um tempo desesperador, onde não se achava uma base nem nada que pudesse sustentá-lo em seus pensamentos. Sua mente era um mundo do qual queria fugir, mesmo sabendo que não podia. Mas nesse meio tempo as coisas pioraram ainda mais.
Placas, músicas, fotos, comerciais, filmes e pessoas. Tudo ao mesmo tempo. Todos eles iniciaram uma tentativa conjunta e desesperadora de esclarecer os sons das vozes, mas a coisa se tornava cada vez mais confusa. Tudo era surreal e subjetivo, tão subjetivo a ponto de não poder ser decifrado. O barulho parecia ensurdecedor. E todas aquelas coisas juntas o deixavam cada vez mais insano.
Até que um dia, ao ver os símbolos e números nos papéis brancos e ouvir com mais atenção as vozes, William conseguiu finalmente entender o que tudo aquilo queria transmitir. Descobriu, naquele momento, onde estava a chave. E para sua surpresa era o lugar mais óbvio do mundo.
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