AVISO

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terça-feira, 15 de junho de 2010

Universo (Im)Perfeito

Respirar num mundo em que não nos pertence, estar em tudo e e em nada ao mesmo tempo
Ser a essência, a vida, a morte, a união, a separação, a dor, a calúnia, a misericórdia
A compaixão, a mão que afaga, o ódio, a destruição, a natureza, a beleza, o horror
Não ser nada, existir em todos os aspectos
Ora, mas o que é mesmo a existência?
A energia abundante que tudo permeia, da qual estamos cheios e mal sabemos
A vontade que em todos habita, o vácuo entre a matéria que ainda desconhecemos
E o mundo gira, rodando a uma velocidade incrível
O macro e o micro se encontram e se complementam, tornando-se exatamente a mesma coisa
A vontade tem poder absoluto, pois ela é a geradora de todas as coisas
E como saber o certo e o errado, se tudo é incerto e nada é exato?
Pois apenas busquemos o que nos completa, o bem comum e a realidade universal
Valores incompreensíveis para muitos, mas tangíveis para tantos outros que agora estão vindo
Transformações, mudanças...tão necessárias quanto o nosso oxigênio cotidiano
Levantar-se, tentar, lutar...restaurar o que for possível e fazer tudo novo
O criador está em tudo, o criador é tudo
Toda a criação reflete sua inefável sabedoria e seu infinito amor
Cantemos, cantemos essa melodia eterna, nascida da Primeira Causa
Talvez estejamos errados, mas saudemos o alvorecer de uma nova visão
A consciência que se manifesta em tudo, que faz tudo, que é tudo, que a tudo pertence
Nós somos o Todo, o Absoluto, a verdade por trás das enganações
E mesmo que nem tudo possamos unificar, procuremos pelos caminhos da luz
Deixemos a centelha do conhecimento eterno resplandecer na imensidão estrelada
Permitamos ao tempo curvar-se em sua própria curvatura compartilhada e dependente, juntamente a tudo que existe
Criemos nosso mundo, nosso universo, nossa vida e sejamos as ondas que se espalham pela vasta escuridão
Atraiamo-nos uns pelos outros, para sabermos que fazermos parte da mesma coisa
Sintamos o mais ínfimo pedaço de nosso ser, espelhemos a mais sublime e minúscula maravilha da criação
Soemos em uníssono, com os distantes e os próximos
Alcemos para outros mundos, conheçamos outras buscas e novos horizontes
E assim, simetrica ou assimetricamente, escolhamos a realidade mais real
Sonhem e devaneiem, vós que sabeis buscar pela verdade
Sorriamos e felicitemos a beleza da existência, em todas as suas imperfeições, nós que apenas procuramos
E essa é a música, a canção do espaço-tempo incluída em cada um de nós
Pois tudo somos, tudo sabemos, nada deixamos para trás
Tudo nos contempla, tudo nos assiste
Somos o centro e ao mesmo tempo o ponto perdido na infinitude de um sistema inacabado
Somos o Criador, a manifestação da vida
Somos o belíssimo Universo Perfeito no qual habitamos.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Another World

Once again the government tries to show an admirable work. If Iran is doing something wrong (and this could be read as “trying to develop a better health’s system) we are the ones who can stop this. At least if “we” are not, USA and EU surely are.
Brazil and Turkey, though, are two countries that are not buying it, which can easily be noted if we consider the recent agreement between them and the Iranian leader. However, such civilized deal wasn’t well accepted by the whole world even showing itself able to put an end in many discussions. At this moment the problem got bigger: the question about what kind of global politic organization we have has just been reborn.
The end of the 2º World War brought us all to a New Order, a bright and until then never experienced way to rule our world. Among the ashes and the saddest memories we could ever create the multi-polar world came to reality. Well, but it may have happened only in our imagination after all, and we can see it now.
In 2003 we all watched the US’s invasion of Iraq and turned our eyes to that giant confusion. The reasons were extremely easy to understand: the Iraq was under an oppressive government, responsible for eliminating all possibilities of its citizen’s happiness. In another words, we were just simply denying our role as part of a really established world while leaving a country to be ruled by animal laws. That’s why USA decided to make the first move, because someone had to do it.
Today it became funny, almost a reason to laugh, noticing how ONU has won much more importance than in 2003. At that time it determined USA had no rights to make its way through those Western Asian soils, decision which was not taken as an order. It sounded to them more like a joke, nothing else. But everybody changes, this is for sure.
Now, with this international problem, the words have changed too. “Let’s get together to stop this crime against mankind. They may kill themselves if we don’t act”. That’s right; Iran must obey and leave behind this stubborn will of having its own health and energy system. And whoever tries to support them, like Brazil and Turkey did, is just as crazy as Ahmadinejad.
Unfortunately our thoughts can’t just go away and at this point there are probably only two questions that can be done, once we have already realized the real problem: do we really live in a multi-polar world or would it be just a lie? Have we been fooled all this time? The answers are not quite clear yet but we can find them very soon, maybe sooner than we expect to.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Verdades Sem Razão

Não encontrar mais, não acreditar por um dia, esquecer e não dizer
Falar? Guardar? Esperar? Não, não...não
Assim desfalece, assim examina, assim se perde
Acrescentar dois pontos ao quadro, tornar o louco são em sua própria debilidade
Mente sem rumo, escrava de desejos efêmeros e vãos
Instável, à deriva em um mar bravo e irresoluto
Como a água sem destino, como o esconderijo perdido
Arrefecem os amores do coração, incendeiam as paixões que buscam a razão
E não encontram senão vontade de ser, mas descobrem-se incapazes de crescer
Por que a fé não sabe seu caminho?
Por que guia sem ver a luz de sua crença?
Sem Deus não haveria eu, sem mim não haveria Deus
Com certeza a dúvida morreria, mas sem dúvida nada existiria
E cai, cai para não mais se levantar
Como uma amnésia temporária, como o dia que não tarda a vir
Sem movimento, correndo à velocidade da luz
Metáforas sem sentido, alusões a realidades individuais
Egocentrismo exacerbado, imperceptível e fruto de pensamentos quiçá errados
A magia foge, escapa para seu universo isolado e inatingível
Ficam os ares, a sede, a vontade, a soberba
Carregam-nas o luto, a vida morta na ausência de um suspiro
E as memórias do que não existiu, sonhos irreais da alma
Mentira auto-explicativas, de objetivos nobres e exaltados
Vivem com elas as verdades, sem razão para respirar
Sem ar se deixam, morrem, e vivem sua vida já acabada como se um dia tivessem vivido

Sem Pensar, Sem Dizer, Sem Encontrar

Se o tempo parasse para me esperar eu o acharia meu inimigo
Mas se corre a meu lado, sem dizer suas vontades, o vejo como insensato
Sem opção eu também vou, gastando fôlego e força, mas nem esperando saber
Busco aquilo que não me apraz, rejeito o que me faz bem
Espero as coisas que não virão e procuro as que aqui já estão
Um resgate, um momento de loucura, um pensamento perdido e largado às traças
A estrela do dia vindouro brilha num céu iluminado, mas ofuscado por desejos incompletos
E assim sinto-me eu, sem rumo e vontade, sem harmonia que me baste e felicidade que me alimente
Se lhe dissesse que não sei acabaria com duas vidas
Talvez o fizesse por todos meus anos e então destruisse muito mais
Não desisto, embora não ache espaço para sonhar
E se escrevo minhas falas, perco-me em meio aos devaneios
Esqueço as verdades e dou meus valores às mentiras
Saio sem luz, guio nas trevas de florestas densas e perigosas
Não encontro razão, não espero sensatez
Sem pensar, sem dizer, sem aclamar ou gritar
Encerro dentro de mim todos os afazeres, os projetos abandonados
Largo a solidão, troco-a pela exaustão
Ignoro o dia, ignoro as pessoas, ignoro as vozes e os chamados
Repito o que não entendo e enxergo pouco
Sem dizer, sem pensar, sem saber
Pouco se dá por muito, muito se perde por nada
Virtudes como as pessoas possuem não são as minhas
Não há, na verdade, qualidade alguma
Escondo o que não devo, exponho o que poderia guardar
Sem pensar, sem dizer
Perde-se a voz, perdem-se os pensamentos
Morre sem explicação, falece em um eufemismo de esperança eterno
Sem pensar, sem dizer, sem encontrar
Apenas acaba

A Teia Dos Pensamentos

Como a noite tece seu caminho pelo céu, quebrando a memória de um dia acabado
Assim também vão meus pensamentos, que sem aviso partem e me deixam
Nova terra não encontram, porquanto perdem seu rumo e não retornam ao dono
Mas por longe estarem, inatingíveis, inalcançáveis, escrevem novas histórias
E largam seus companheiros para sozinhos existirem
Se eu também o fizesse rezaria para reconhecer quem sou
Buscaria encontrar esse pedaço que nunca esteve aqui, embora faça tanta falta
E como uma mãe rompe o coração de seu filho, deixando-o só a encarar dois mundos estranhos
Meus sonhos viajam para o espaço
E eu fico preso, sem rumo e sem destino, sem hora para acordar e devendo para quem não deveria dever
Mãe minha, somente lhe peço que não se vá, que não faças tão grande viagem
Pois sem teus conselhos, tua voz, sem teu amor e tua esperança torno-me apenas mais uma criatura
Não escrevas teu futuro sem mim, não desapareças para mais tarde retornares
Não sei se aqui estarei ao fim de seu novo rumo, se contigo hei de encontrar-me
Peço te, imploro-te, apenas que não me deixes
Minha teia não pode ser construída sem ti, tampouco se a noite escurece minha visão
Se tens que partir, dê-me tão somente uma luz para guiar-me pelas estradas que encontrarei
Pois tu és tudo que tenho, minha mente, meus olhos, meu ser
E se estou sem ti, falta também minha alma em mim
Chamo-te por tal importância, pois quero fazer-lhe entender
És tu, sois vós, tendes a vida de amanhã e o futuro carregais convosco
Adiante segui-me, levai-me, esperai-me e escutai-me
Fazei um novo dia, criai nova Terra
E com ela trazei uma nova teia, na qual em também me ache
Forçai-me a descobrir quem sou, abri-me os olhos antes que eu perca e desista de procurar

domingo, 9 de maio de 2010

Forse sia la cosa più importante...

Tutti i giorni noi vediamo cose e ci dimentichiamo di questionare nostre azioni, domandarci si siamo facendo il meglio di noi! A volte solo ricordamo di pensare sull'atitudini dell'altre persone e non tentiamo davvero imparare quello che già pensiamo di sapere, senza riflettere che poi tutte le certezze che abbiamo si tratteranno di cambiare per tornarsi nuovi pensamenti. Non ascoltiamo le parole, non diamo la importanza alla verità del nostro cuore e di quello che siamo. Ma la cosa più importante è imparare e caminnare da sempre senza lasciare la speranza di qualche giorno vivere la felicità, perchè si nom crediamo che possiamo fare e trarre i sogni a realtà non c'è ragione per stare aqui e svegliarsi domani.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Causas Menores e Conseqüências Maiores

Para a Construção Civil o problema provavelmente se deu por conta da ausência de fundações. Já para os ambientalistas o incidente teve como causa a erosão do solo. Não é muito difícil perceber que, levando um pouco mais a fundo as duas visões, ambas estão interligadas e são fatores constituintes de um problema muito maior: a falta de infra-estrutura. Esta é, sem dúvida alguma, imprescindível para garantir a resistência de uma construção diante de fatores geológicos e climáticos intensos. E é exatamente a falta de planejamento que trouxe o desmoronamento do Morro do Bumba em Niterói, Rio de Janeiro, na noite do dia 07/04, uma quarta-feira chuvosa que, sem aviso prévio, mudou para sempre a vida de dezenas de pessoas.
Durante dezesseis anos, de 1970 a 1986, o local foi utilizado como lixão, sendo considerado, na época, o segundo maior do município carioca. O lugar, no entanto, ao término do governo Wellington Moreira Franco, já havia atingido sua capacidade máxima, ficando totalmente saturado e forçando, conseqüentemente, sua transferência para outro ponto. Quando finalmente encontrou-se um novo destino final para o lixo, a área foi desativada e sua ocupação vetada. Isso perdurou, porém, apenas por um breve período, pois aos poucos a fiscalização tornou-se ineficiente, e pequenas casas de alvenaria começaram a ser erguidas no local.
Foi nesse período que o então governador Leonel Brizola realizou uma obra de saneamento e levou ao morro o programa “Uma Luz Na Escuridão”, gerando também a construção posterior de uma escola e implantação do programa ‘Médico de Família. Pouco a pouco o lugar foi ganhando novas características, passando a contar com uma quadra poliesportiva e uma creche. Com o incentivo governamental, a população residente no Morro do Bumba cresceu cada vez mais, sem consciência dos riscos aos quais estava exposta. Entretanto, cerca de 20 anos após o início da ocupação, vieram os problemas, mostrando-se muito maiores do que poderiam, outrora, aparentar ser.
Se estudarmos o solo constataremos que suas características podem apresentar-se de diversas formas, dependendo do lugar analisado e os agentes intempéricos atuantes. Todavia, existe um processo que é intrínseco a todos os tipos de solo e pode, em alguns casos, levar a desbarrancamentos e desmonoramentos, sendo denominado “erosão”. Sua ocorrência se dá através do carregamento de partículas constituintes do solo e é natural, podendo, no entanto, ser intensificada de acordo com as condições específicas do lugar.
A retirada da mata é um fator que se encontra numa relação diretamente proporcional à erosão, uma vez que as raízes das árvores são responsáveis por manter o solo firme e evitar seu fácil deslizamento. Deve-se lembrar, ainda, que quanto maior a inclinação do terreno mais forte será sua erosão, já que a diferença de altura proporciona maior mobilidade às partículas no nível mais alto, as quais, por sua vez, serão levadas para baixo pelo vento ou água. Morros possuem, deste modo, alta propensão natural a desenvolver processos erosivos violentos, os quais só podem ser minimizados pela vegetação de porte arbóreo.
Construções mal projetadas e frágeis têm grande probabilidade de apresentar problemas estruturais ao longo do tempo. Pode-se colocar a fundação feita de forma errônea como, provavelmente, a maior causa do surgimento de dificuldades no firmamento de edificações, sendo seus efeitos, além disso, cumulativos, pois possui a função de fornecer a base e garantir resistência e estabilidade à construção. Casas pertencentes a conjuntos habitacionais com ausência de infra-estrutura, comumente chamados de “favelas”, carecem de tal etapa do projeto arquitetônico, sendo excepcionalmente mais suscetíveis a desabamentos decorrentes de fatores climáticos mais fortes.
Juntando os dois problemas supracitados, ambiental e estrutural, tem-se uma visão das condições encontradas no Morro do Bumba, antes do seu desmonoramento. Contudo, nesse caso, existe um fator agravante: a antiga presença de um lixão na área. Toda matéria sofre processos de decomposição, os quais são responsáveis por torná-la ao estado de elementos químicos separados. E com o lixo depositado ali não poderia ser diferente.
É provável que ao longo do tempo os resíduos descartados no local tenham sido soterrados e, dessa forma, vinham sendo gradativamente decompostos. Tal ação implica, necessariamente, na redução do volume destes, deixando os espaços que antes ocupavam parcialmente vazios. Com o passar do tempo, certas regiões mais internas do terreno perdem sua firmeza e a mesma coisa passa a se mostrar em inúmeros pontos. É possível perceber que tal condição não pode ser mantida por muito tempo sem que haja algum reflexo nas partes mais afastadas de sua ocorrência, ou seja, na camada superficial do solo, chegando ao ponto em que este acaba por colapsar.
Todos estes problemas, somados à intensa e intermitente atividade pluvial que assolou o Rio de Janeiro nos últimos dias, podem ser apontados como responsáveis pelo incidente recente em Niterói. Entretanto, é necessário denotar que o fator social, em questões como essa, sempre precisa ser avaliado e levado em consideração na busca de soluções, uma vez que a população é causa e também vítima direta de tais acontecimentos.
Avaliações recentes demonstraram que existem, pelo menos, mais 130 pontos de risco, onde as áreas estão sujeitas ao mesmo efeito observado no Morro do Bumba. Mas, mesmo em frente a essas estatísticas alarmantes, as pessoas recusam-se a deixar suas casas. No local do acidente, apenas três das doze famílias residentes abandonaram suas habitações por vontade própria. As outras nove, mesmo em condições muito perigosas, optaram por permanecer, embora estejam mantendo estado de alerta e procurem dormir em regiões um pouco mais afastadas das partes atingidas.
São perfeitamente plausíveis os argumentos que defendem maiores investimentos governamentais para com as áreas mais carentes. Porém, é de igual importância ressaltar outro grande entrave para a solução destes problemas: a vontade popular. Estima-se que apenas 15% dos habitantes de favelas queiram deixar suas moradias, sendo que mais da metade delas, de acordo com o Censo 2000, possuem artigos como televisão, geladeira, DVD e celulares. Se tomarmos como análise esse ponto, veremos que, além das dificuldades propriamente inerentes a um processo de restauração e reeducação de toda a comunidade, encontra-se também a falta de apoio por parte desta, dificultando muito o processo.
Logo, embora ações como as realizadas pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que visam estimular o crescimento econômico do país, sejam, em sua essência, necessárias para o desenvolvimento, há também a grande necessidade de fornecer a conscientização gradual das camadas mais carentes da população. Concomitantemente, é imprescindível a honestidade por parte do governo, bem como o incentivo a estudos que busquem caracterizar e expor possíveis soluções para os problemas sócio-ambientais encontrados em áreas de risco. Afinal, o desmoronamento não foi mais que o resultado de políticas falhas e estímulos que seguiram na contramão das reais necessidades da população, funcionando apenas como paliativos que, infelizmente, mostraram-se como fatores agravantes de um grande processo de apropriação irregular.

sábado, 20 de março de 2010

A força que nos leva adiante!

"Cada um de nós é insubstituível. Cada pessoa tem seu valor e seu poder de transformação no mundo". Se, entre as inúmeras catástrofes e atrocidades cometidas pela capacidade de destruição inerente ao ser humano, pararmos para ouvir o que tem sido dito nos dias atuais, constataremos que o crescimento pessoal tornou-se assunto recorrente no mundo. Não somente na sociedade, mas também no nosso universo interno.
Vivemos em constante transformação, bem como tudo que está à nossa volta. Mesmo a Lei de Lavoisier dizendo respeito apenas à energia na natureza, é indispensável falar sobre sua aplicação no quesito social. Aqui nada mais se cria, nada mais é perdido. O que fazemos é apenas transformar tudo que podemos a fim de proporcionar melhorias para o nosso modo de vida, sem, tampouco, esquecer que devemos ainda acompanhar as mudanças mundiais. E é aí que muitos se perdem.
Se você não possui forças para realizar ou arcar com tais alterações em seus padrões, é bem provável que, numa "escala de desenvolvimento", acabe ficando para trás. Isso porque uma pessoa, exatamente como uma célula, necessita de energia para continuar a trabalhar. Se faltar essa força, nada acontecerá. Para nós ela é a auto-estima.
Para muitos talvez não interesse o fato de que 40% de seu esforço é direcionado ao governo. Afinal, teoricamente, não vivemos num retrato francês do século XVIII e, portanto, somos livres para ascender socialmente e exercer nossa capacidade de crescimento. E é esse pensamento, essa fé numa liberdade e, em consequência dela, uma possibilidade de melhoria que nos leva a lutar dia-a-dia para continuarmos a ser alguma coisa e, com a ajuda de Deus, subir para um padrão de vida melhor. Pois, logicamente, o Senhor, pai de todos nós, é brasileiro!
Logo, nos Jardins ou nos morros da Cidade Maravilhosa, a energia que atua em nós é a mesma. Não importam os problemas no país. Afinal, o que são alguns centavos a mais na tarifa do transporte se seu filho o está utilizando para ir à escola e com isso tornar-se um grande profissional que, certamente, possuirá um belo carro para desfilar pelas ruas da cidade? Se necessário, cortamos alguns gastos e dessa forma o problema estará resolvido, porque, no fim das contas, somos todos brasileiros, assim como aquele que o mundo, em sete dias, criou. E, como bem sabemos, brasileiro que é brasileiro é movido por auto-estima e, por isso, não desiste nunca!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Crederci Ancora

Solo penso ancora in le cose che non sò parlare, sentimenti che non hanno passato ed anche cui non posso spiegare. Vorrei trovare una ragione per credere di nuovo, ma questo giorno non se fa bello per me come questa settimana e niente è mai di forma che ho sognato. Pensavo che potessi fare e cambiare molte cose, ma solo ho sbagliato e inganato a tutti. Adesso non sò mai com'è caminare e, per questo, solo aspetto un po' di pace ed amore, alcune parole che mi possano fare bene. Ma non ho voglia di dimenticare quel cosa in cui ieri credevo, anche non siano mai tanto reale e mi facciano perdere la speranza. Sò que ho la forza per essere cosa importante e così vivere questa vita senza lasciare lacrime per mio camino. Ringrazierò a Dio per tutte le opportunità che mi ha datto e farò dei miei sorrisi i milgiori che possa, perciò avrò un posto in questo mondo e vivrò felice per sapere che vado, d'ora in poi, crederci ancora.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Levantai vossas bandeiras contra a desordem!

E mais uma vez, como não poderia faltar quem se pronunciasse à favor da manutenção da nossa ordem social, a ilustríssima Igreja Católica fez o seu papel. Simone Scatizzo, um bispo já aposentado de 79 anos, resolveu deixar explícitas suas idéias. "Gays declarados e ostensivos não devem comungar, pois a homossexualidade é uma desordem, um pecado que exclui da comunhão". Suas palavras foram claras e talvez, por serem tão objetivas, acenderam as chamas da luta de grupos GLS's italianos, os quais não ficaram calados diante disso. Mas, como sempre, muito se fala e pouco se faz. Não que algo devesse verdadeiramente ser feito, embora seja impossível negar que situações como essas continuam enraizadas em nossa sociedade e atrapalham avanços que poderiam ocorrer se pudéssemos deixar algumas diferenças de lado. Só que a liberdade de expressão tem suas conseqüências e sempre acaba gerando certos conflitos.
Viver em sociedade não é fácil, nunca foi e é bem provável que jamais seja. Cada pessoa tem seus próprios ideais e modela o mundo à sua volta da forma que melhor lhe convém, criando uma realidade particular que vá de encontro com os seus princípios. E bem sabemos que princípios são nada mais que uma lista de regras de boa conduta extremamente relativa, que pode variar drasticamente de um indivíduo para outro. Ainda assim existem certas coisas que saem desse campo e vão parar no que gostamos de chamar de "bom senso", sendo que ele deveria nos guiar mais vezes em determinadas decisões, principalmente quando temos consciência dos efeitos de nossas atitudes sobre o mundo ao nosso redor.
Pensamentos religiosos fazem parte do nosso universo, daquilo que somos e, sem dúvida alguma, estão intimamente relacionados à nossa visão de mundo (que, logicamente, parte de nossos princípios). Todavia, estes, teoricamente, deveriam estar retidos em nosso interior de forma a não se exteriorizarem e ultrapassarem a barreira imaginária de universos alheios, onde existam seres humanos exatamente como nós e que possam ser profundamente atingidos por nossas palavras. E essa regra só deveria tornar-se passível de exceções se a pessoa estivesse disposta a abrir o seu mundo para as conclusões e devaneios de outrem. Deve-se levar em consideração, ainda, que a intolerância gerada por isso é diretamente proporcional à vazão que damos para que o nosso preconceito se manifeste, o qual, inescapavelmente, nos acompanha por toda nossa vida e é responsável por todos os julgamentos muitas vezes "sem pé nem cabeça" que fazemos de quem não conhecemos.
Contudo, muitos parecem não estar dispostos a respeitar qualquer sinal de alerta que diga coisas como "cuidado, você está entrando em território desconhecido, por isso preste atenção ao que dirá para não causar danos" ou mesmo um simples "fique atento ao que virá depois". Talvez algumas poucas aulas de Física fossem suficientes para que nós nos tornássemos capazes de entender que a terceira lei de Newton, a qual descreve os conceitos de ação e reação, não fica bonita somente em livros de ensino médio, tampouco tem seu funcionamento restrito aos cálculos de interação entre corpos. Se você empurra algo a lógica impõe que a força exercida retorne no sentido oposto. Isso provavelmente explicaria a revolta de alguns de nós quando ouvimos algo que não gostamos, principalmente quando sentimentos nossa liberdade sendo golpeada e lançada ao chão, mostrando-nos claramente que dentro da mente de outros nós estamos totalmente errados. E as proibições resultantes compõem o fator mais agravante, exatamente aquilo que chamamos de "gota d'água", culpado pelos inúmeros homicídios e outras barbáries feitas em nome de um ideal.
É importante manter em mente que certos sistemas fecham as portas para a inclusão de grupos isolados, como, por exemplo, os homossexuais. Torna-se igualmente essencial ressaltar que o mundo em que vivemos está mudando e o espaço para a exclusão tem sido cada vez mais reduzido. Algumas previsões podem até estimar que brevemente os marginalizados serão aqueles que hoje excluem, e mesmo assim isso não seria animador. Como nosso presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, disse, "gays e a união entre eles são uma realidade. Não podemos simplesmente fingir que não existem, porque existem". Logo, resta apenas saber o que a nossa sociedade pensa em relação a isso e as atitudes que deseja tomar, sendo que seguir o rumo de Uganda e criar um projeto para punir com morte os casos de "homossexualidade agravada" não é a melhor saída para a solução do "problema".
Abrir as portas do nosso universo para que os diferentes de nós, por livre e expontânea vontade, possam conhecer nossas ideologias é a melhor forma de conquistar seguidores fiéis e derrubar barreiras de pensamento e preconceitos, levando em consideração que esse seja o objetivo. Forçar mudanças na vida de outros é cultivar ódio e disseminar discórdia. O que não podemos é fechar os olhos e criarmos uma redoma de vidro intransponível, onde nos prendemos e mantemos o resto do mundo do lado de fora, como se ele simplesmente não existisse. Afinal, nossos ideais comuns pregam a igualdade, mas se nós não podemos praticá-la é melhor que deixemos de lado nossas crenças e vivamos pela lei do mais forte. Quem sabe assim a evolução não se encarregue de colocar no topo o "modelo humano" mais desenvolvido, sem precisar da ajuda da nossa falsa moral para isso.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Ledsemae - O Choque Entre Os Dois Mundos (Capítulo 1)

Bem, em primeiro lugar acho importante ressaltar que esse é apenas um projeto de livro e a história não está totalmente estabelecida, o que significa que muitas coisas podem mudar ou até que posso, inclusive, não dar continuidade ao enredo. Ainda assim é algo que espero ter força de vontade para levar para frente e concluir, porque tenho um apanhado de idéias que a mim pareceriam muito legais se colocadas no papel e envolvidas em uma trama. Sendo assim, deixo aqui o primeiro capítulo da história, o qual, embora não traga muitas informações, contém uma breve apresentação do modelo da narrativa e da minha forma de contar os fatos (ou da forma de Peter, dependendo do ponto de vista).


Capítulo 1
Os meus dois "primeiro dia"


Pra falar a verdade, não era exatamente uma sensação estranha. Já havia me acostumado a ela, só não esperava que viesse com tanta força dessa vez.
Os segundos pareciam se arrastar, como se não estivessem mais passando; era difícil não pensar que o tempo talvez tivesse parado. Mas o lógico era supor que não, pois se isso tivesse acontecido provavelmente aquela cena estaria congelada, e não se desenrolando na minha frente. Não podia mais suportar ficar parado, apenas assistindo tudo aquilo como se fosse um espectador incapaz diante de um filme que por ele não fora produzido. Precisava fazer alguma coisa, precisava ajudar, mover o que pudesse para transformar aquilo. E assim o fiz, mas mal sabia eu que aquela decisão mudaria minha vida inteira dali em diante. E o pior de tudo: mudaria também todo o meu passado e de mais algumas pessoas!
•••
- Peter Leon Julius, faça o favor de levantar dessa cama nesse exato instante!
Aquela voz chegou aos meus ouvidos com uma força absurda, como se estivesse saindo de algum imenso alto-faltante colocado no último volume. Abri meus olhos lentamente e procurei enxergar algo, mas era inútil. Ainda meio zonzo, sentei-me em minha cama e vasculhei meu quarto com a visão embaçada, tentando convencer a mim mesmo de que agora tudo era real. Fora apenas um sonho, nada mais que um sonho. Tão estranho quanto todos os outros que já tive, mas apenas isso: um sonho.
- Você ouviu o que eu estou dizendo? É melhor que você não me faça subir aí ou estará em sérios problemas, garoto!
É, agora sim eu havia me dado conta de que aquilo era a realidade. Aquela voz era inconfundível: só podia ser aquela velha maluca novamente. Será que ela não se cansava de me atordoar? Havia tantas coisas que uma mulher viúva, aposentada e com uma renda razoável poderia fazer! Tenho certeza que viver para atazanar um garoto de dezesseis anos, iniciando o terceiro ano do ensino médio, não estava entre uma delas. Mas faltava pouco. Em breve, dentro de pouco mais de um ano, eu estaria fora daquele lugar! Nunca mais teria de olhar para aquela cara enrugada todas as manhãs e me perguntar, ironicamente, porque os céus foram tão generosos em mandar-me aquela criatura rabugenta.
- Eu estou subindo agora!
- Não precisa! – gritei eu, já irritado com a situação – Já levantei e estou descendo!
- É bom mesmo! – retrucou ela, depois de alguns breves segundos.
O silêncio tomou conta do lugar. Só pude ouvir alguns passos recuando nos primeiros degraus da escada e murmúrios baixos, mas ainda assim audíveis. Percebi então que estava sem óculos (o que daria pra notar pela forma como a minha toalha verde pendurada lembrava muito a moça que fazia a previsão do tempo no Jornal da Noite). Tateando a cômoda os senti. Levantei ligeiramente a borda da minha camiseta e limpei as lentes. Coloquei-os então e o quarto se fez compreensível instantaneamente. Sem mais delongas abri minhas gavetas, procurando o lugar onde estavam meus uniformes.
É, realmente não sei que indivíduo teve a idéia de usar cores tão feias num uniforme. Se queriam envergonhar os alunos, conseguiram. Até aquelas frases de caminhoneiro, como “Se tamanho fosse documento, o elefante seria dono do circo” ou “Nas curvas do teu corpo capotei meu coração” teriam caído melhor numa camiseta. Pelo menos eu me sentiria melhor se andasse com algo assim escrito em minha roupa no lugar de ter que aturar aquele marrom e amarelo. Duas cores horríveis e que, ao meu ver, não combinavam nem um pouco. Se o faziam, quem planejou aquilo realmente não acertou nas tonalidades.
Os furos pequenos espalhados pela camiseta eram visíveis a quem se aproximasse dois metros de mim. Mas aquela, felizmente (ou talvez não), era a melhor das outras três, que conseguiam ser até mais feias por estarem tão velhas. A calça também causava espanto em qualquer um que tivesse bom senso. Afinal, que ser humano em plena sanidade mental acharia que uma camiseta como aquela combinaria com uma calça azul índigo?
Mas eu não podia fazer nada a respeito, até porque já tivera dois anos pra me convencer disso. Só queria pensar que faltava apenas um terço de tudo aquilo. Era pouco e iria passar rápido. Depois dali pensaria no que fazer da minha vida. Vesti minha roupa, escovei os dentes, arrumei a cama, peguei a mochila e desci as escadas. Ao alcançar o corredor, chegando perto da porta, na esperança de que ela não me visse, uma voz vindo de trás se dirigiu a mim:
-Até que enfim, hein?! Achei que ia bancar o vagabundo e ficar dormindo o resto do dia.
Eu parei por alguns segundos, ainda sem olhar.
- Se eu durmo o resto do dia é pra não ter que ouvir a sua voz – murmurei baixinho, sem me dar conta de que não estava somente pensando.
- O que você acabou de dizer, garoto?
- Nada! Só estava me lembrando de que preciso fazer meu dever sobre a Foz! Foz do Iguaçu, sabe?! – falei, deixando um leve sorriso perpassar meu rosto.
- Ah, bom mesmo! Lembre-se que eu sou sua mãe e você me deve respeito.
Não falei nada, apenas assenti com a cabeça e saí andando em direção à porta.
- Não vai comer? Vai pra escola de barriga vazia mesmo?
- Não estou com fome. E, além do mais, estou ligeiramente atrasado. Se eu demorar demais perderei a aula de História.
- Ah, as aulas de História. Não sei que grande paixão você vê nisso. Acha que vai ser o que? O novo Pedro Álvares Cabral? Acha que vai descobrir um continente ou qualquer coisa assim? – disse ela, no tom mais sarcástico que conseguiu.
Sarcasmo por sarcasmo, eu respondi:
- Ah, não tenho essa pretensão. –falei lentamente - Perdoe-me, mas acho que não darei tamanho reconhecimento à família Leon Julius. Seria preciso alguém com muito mais habilidade que eu para realizar tão esplêndida coisa. E não falo só de inteligência, até porque um pouco de estudo te mostraria que o último continente a ser descoberto já o foi. E, por algum acaso, se chama Oceania. Então, a menos que você pretenda criar outro mundo, onde também haja porções de terra cercadas por mar, e colocar-me nele, creio que não poderei lhe ajudar com o seu belíssimo e admirável sonho de ter um filho descobridor!
Nem olhei para trás para ver a cara que ela fazia, pois creio que se o fizesse sairia de casa numa ambulância. E não porque ela me atacaria, mas certamente a feiúra de sua expressão já seria suficiente pra causar um ataque cardíaco até nos corações mais saudáveis. Bati a porta e saí andando o mais rápido que pude. A rua estava molhada, por isso mesmo com pressa tomei cuidado para não levar um escorregão.
A escola ficava a apenas quatro quadras da minha casa, o que não me dava muito tempo pra pensar em paz, sem a interferência de minha mãe ou daqueles que, supostamente, deveriam ser meus colegas de classe. Se digo supostamente é porque, de fato, não conseguia nem sequer chamar qualquer pessoa naquela sala de colega. Pareciam mais um bando de animais e eu, até onde me lembro, nunca recebi qualquer aula que me ensinasse ao menos níveis básicos de comunicação com qualquer outra forma de vida que não fosse humana. Não que eu não me pegasse às vezes conversando com cachorros, gatos ou até mesmo pássaros. Mas sentia que eles entendiam muito melhor o que eu dizia que qualquer aluno naquela escola.
Enquanto caminhava lançava olhares constantes para o céu. O dia estava nublado e nuvens carregadas se acumulavam. Estavam pesadas e a tempestade que se aproximava parecia não ser muito amigável, por assim dizer. Mas eu não ligava muito, pra ser sincero. Gostava de chuva, de tempos fechados. O Sol não era lá meu grande companheiro. E era até engraçado ver como naquele dia em especial os formatos das nuvens lembravam o rosto de um senhor beirando a casa dos setenta e que, pela sua “expressão” (se é que posso dizer isso de um aglomerado de nuvens), comera alguma coisa que não lhe fizera bem. O estranho para mim foi que o vento não correspondia à paisagem; estava fraco e tudo que podia sentir era uma leve brisa, semelhante àquelas de dias de verão em campos abertos.
Um estrondo. Um trovão. Algumas gotas tocaram meus braços. Se eu não quisesse chegar à escola todo molhado era melhor que acelerasse meu caminhar. Tentando andar mais rápido e ao mesmo tempo não parecer um completo desengonçado ao desviar das poças que haviam se formado pela chuva recente, passei pelas três quadras que ainda faltavam. Dezenas de estudantes com roupas que seriam tão feias quanto as minhas se não estivessem em melhor estado caminhavam em direção ao mesmo lugar.
Escola Estadual Gilberto Mesquita de Arantes. O último lugar no mundo onde eu gostaria de estar naquele dia. Mas, repeti para mim em meus pensamentos, faltava só um ano. Um ano para estar fora daquilo e me ver livre daqueles pirralhos – que na verdade eram, em sua maioria, da mesma idade que eu.
Adentrei os portões e imediatamente a diretora veio falar comigo, como se tivesse surgido do nada ou, talvez, tivesse ficado ali me esperando.
- Bom dia, Peter! Espero que tenha aproveitado bem as suas férias – disse ela com um sorriso forçadamente educado.
- B-bom dia, Srª Oliveira – respondi ainda meio confuso.
Abordar-me pela manhã, enquanto eu estava absorto em meus pensamentos, não era a coisa mais inteligente a se fazer. Não porque eu pudesse reagir com algum tipo de estupidez, mas pelo fato de que poderia não falar coisa com coisa.
- Bom, eu só queria chamar a atenção para um pequeno detalhe. Acho que todos nós estamos perfeitamente cientes dos eventos ocorridos no fim do ano passado, certo?
Aquilo era uma claramente pergunta retórica, por isso apenas assenti com a cabeça.
- E, igualmente, creio eu, todos desejamos que eles realmente não se repitam, correto?
Repeti o movimento com a cabeça, sem emitir qualquer som.
- Correto? – perguntou ela novamente, aumentando levemente o tom de sua voz e fazendo-se um pouco mais incisiva.
- Sim, correto! – falei rapidamente, evitando que nossos olhares se encontrassem.
Ela não era uma megera, como pode estar parecendo. Contudo, sempre prezou muito pelo nome do colégio e pela boa reputação e sei até onde poderia chegar para impedir que a instituição pudesse se tornar mal falada. Bom, ela sem dúvida havia falhado em sua missão há alguns meses, uma vez que todos os jornais do estado haviam noticiado o ocorrido – de forma ruim, claro, exceto por um deles. Era o tipo de matéria na qual qualquer jornalista gostaria de meter o nariz. A história que só tem graça se cada um contar sua própria versão dos fatos. Talvez ela não se importasse muito comigo, mas tive vontade de dizer que a escola sem dúvida tinha sofrido menos que eu.
- Então – falou ela com a mão direita repousando em meu ombro – acho que agora era melhor que você fosse para sua sala. Sei o quanto é apaixonado pelas aulas de História e creio que não vai querer perder um minuto sequer dela, certo?
A expressão em seu rosto mudara completamente. Parecia agora uma mulher dócil e extremamente prestativa, pronta para oferecer qualquer serviço aos seus alunos, embora ainda desse pra notar a falsidade naquilo tudo.
- Sim, sim. É melhor eu me apressar!
Esboçando um sorriso de canto saí andando. Realmente, ela era boa em todos os outros aspectos. Só dava bola demais para algo com o que eu não me importava: o que as pessoas pensavam. Só que às vezes eu achava que as pessoas sim se incomodavam com o que eu pensava, principalmente o grupinho que incluía Eduardo, Douglas, Tiago e Vinicius. E claro que, como era de se esperar, eles tinham um líder, o pior e mais inteligente deles...err, corrigindo: menos burro. Leandro era o seu nome e isso não era algo que só eu soubesse. Esses cinco garotos, juntos, faziam o tipo “grupo manda-chuva de escolas mostradas em filmes americanos”. Aquilo nunca me intimidou, mas, sem dúvida alguma, me irritava demais.
- E aí, leãozinho, andou se esquecendo que tem que pagar a tarifa da semana inteira adiantada no primeiro dia de aula?
Parei a poucos metros do primeiro lance de escadas que levava do pátio ao primeiro andar. Aquela voz. Só podia ser ele. Com o aviso nada amistoso da Srª Oliveira eu até tinha me esquecido daquela baboseira de “Taxa da Paz”.
É, meus caros, pode parecer ridículo, mas um jovem de dezoito anos realmente tinha poder naquela escola. O pai de Leandro era um jornalista muito influente, redator-chefe do jornal mais famoso do estado de São Paulo. Como sempre recebia suborno para esconder as calamidades que o governo fazia tornara-se um homem inescrupuloso. E seu filho não era nada diferente. A diretora fizera um acordo com ele de, em troca da retenção de qualquer conteúdo que pudesse prejudicar a escola, liberar o garoto de todo castigo que seu mau comportamento pudesse acarretar. Teoricamente, só não poderia atingir a integridade física dos alunos dentro da escola. Contanto que não o fizesse, advertências e suspensões jamais seriam destinadas a ele, sob nenhuma circunstância. Seus comparsas, através de um pedido de seu pai, (algo mais parecido com uma ordem) também estavam debaixo da mesma proteção.
- Nossa! É incrível como você já teve quase dois anos para pensar em algo melhor e ainda continua a me chamar por esse apelido ridículo – falei, girando meu corpo para o lado e encarando-o.
Leandro não gostava de ser contrariado e isso poderia ser facilmente percebido pela forma como sua expressão se contorcia agora.
- Então, - continuei – se você não se importa, eu tenho uma aula pra assistir agora. Não tenho tempo pra perder com você. E, respondendo à sua pergunta, não trouxe. Não me lembrei da porcaria do seu dinheiro.
Eu não era idiota, embora não fosse medroso. Sabia que tinha que pagar a tal da taxa se quisesse continuar vivo. Como já expliquei, não adiantava fazer qualquer reclamação à diretoria ou mesmo expor o problema para a mídia, uma vez que seriam barrados em ambos. Contar a minha mãe o que acontecia também não era saída alguma. Acho que ela preferiria me ver apanhando sem que tivesse que responder ao Conselho Tutelar por isso.
- Ah, Peter! – quando ele me chamava pelo nome é porque estava realmente bravo – É melhor você não mexer com fogo. As poucas vezes que tentamos lhe dar uma lição você se safou. Não sei como, mas conseguiu. Aqui dentro da escola você sabe que não podemos fazer nada. Mas fora, a história seria outra. O problema é que – e nesse momento a voz dele foi se abaixando, quase virando um sussurro – não sei o que acontece com você. Simplesmente não conseguimos fazer contigo o que fazemos com os outros.
- E isso te assusta, não?! – falei eu, tentando não provocá-lo e ao mesmo tempo deixá-lo acuado.
Ele parou por alguns segundos, fitando meus olhos com uma raiva que transbordava e podia ser sentida a quilômetros.
- Não, isso não me assusta! – seu tom era forte, mas ainda assim sabia que estava mentindo – Mas eu não sou nenhum idiota pra me meter com você depois do que aconteceu ao Julio, Roberto e Kleber. Não sei o que você tem, mas já estaria morto se não fosse por isso.
Seus punhos se fecharam e eu pude sentir a sua vontade de amaciar minha cara como uma massa de pizza.
- Bom, você é inteligente. Isso é algo que respeito. Quanto ao seu dinheiro, eu o trarei amanhã e espero que se contente com isso!
E, ao falar isso, saí caminhando e subindo as escadas. Eu era o único naquela escola que tinha coragem de enfrentá-lo daquela forma. Não que outros já não tivessem tentado, mas depois de fazê-lo tiveram que embarcar numa viagem com estadia de uma semana em algum hospital.
De alguma forma estranha, aquilo nunca acontecera comigo. Lembrei-me dos três ex-capangas de Leandro que já haviam se arriscado a dar-me uma surra. Nenhum dos três estava vivo para se vangloriar de seu feito. Isso pode parecer cruel e, inclusive, devo admitir que me sinto muito mal com a situação. Mas não fora escolha minha. Eu simplesmente levava alguns socos no estômago e, por algum motivo desconhecido, eles paravam e saíam andando, ignorando qualquer som, o que incluía os urros do grupo para que retornassem. Andavam em direção ao horizonte e desapareciam, sendo encontrados mortos em algum lugar no outro dia. A última morte ocorrera no fim do ano passado e era justamente o evento sobre o qual a diretora me alertara logo na entrada.
Alguns podem estar se perguntando “Ué, mas ele podia não pagar a taxa então. Afinal, todo mundo que ousasse tocá-lo não tinha um fim muito bom”. É, eu também já quis pensar assim. Mas prefiro não contar sempre com a sorte, coisa que eu nem sequer acredito. Não sei nem se posso chamar isso de sorte, porque três caras estavam mortos e eu sentia como se isso fosse minha culpa, mesmo que não tivesse feito absolutamente nada. Além de não me sentir à vontade com a idéia de ser espancado, não precisava do peso de mais um valentão morto na minha consciência. Três já eram mais que o bastante pra me deixar mal.
Cheguei à porta da sala e entrei. Todos os alunos estavam conversando, provavelmente matando a saudade. A algazarra poderia facilmente ser confundida com um enterro se comparada ao que acontecia durante o período dos outros professores. Mas o senhor Roger não deixava barato. Ele sabia como fazer todos obedecerem e manter a sala em silêncio durante suas aulas. Só havia permitido aquele barulho até agora porque também era extremamente justo, afinal, ainda faltava, de acordo com o relógio da sala, um minuto para o início da aula. Eu o olhei e ele levantou os olhos de seu livro, retribuindo o meu olhar. Pensei ter visto um pequeno sorriso surgir entre seus lábios, mas achei que estava vendo coisas. Ele não sorria. Pelo menos eu nunca o tinha visto fazer isso.
Sentei-me, como de costume, na carteira em frente à mesa dele e coloquei minha mochila no chão. A sala tinha o mesmo aspecto de sempre; a mesma porta velha marrom, a mesma cor branca (quase cinza de tão suja) nas paredes e as mesmas janelas. Bom, exceto pelo vidro que ano passado fora quebrado e agora, pelo visto, estava reposto. A lousa estava limpa, apenas com algumas marcas de giz e arranhões daquele tipo que todos sabem que ficarão lá eternamente. Era isso. Seria mais um ano igual aos outros dois. Perfeitamente comum e entediante.
O ponteiro maior chegou ao seu lugar. Sete horas em ponto. O professor colocou um marcador de páginas em seu livro para saber onde parara leitura e o fechou. Levantou-se de sua mesa, inspirou profundamente e olhou para todos nós com um ar de esperança, mas também de tristeza. Eu sabia, de alguma forma, o que ele estava pensando e devia concordar que sentia o mesmo, embora não entendesse o porquê de compartilharmos aquele sentimento. Quero dizer, ele era um professor, deveria sentir isso naturalmente. Mas eu era apenas um aluno. Talvez aquilo não fosse uma sensação propriamente esperada de mim.
Quando ele abriu a boca para falar a sala inteira calou-se. Mas eu realmente fiquei em dúvida se o fizeram porque notaram que ele ia falar, pois seus olhares e, inclusive, suas cabeças, estavam virados em direção à porta. Ele, percebendo o que acontecera, também mudou a direção de seu olhar. Eu fiz o mesmo.
- Com licença, é aqui que é o... – ela abriu um papel e o olhou, parecendo ter certa dificuldade para entender a letra – terceiro D?
- Sim, senhora – respondeu o professor com serenidade – aqui mesmo. Você deve ser a aluna nova, certo?
- Sim, sou eu. – ela falou com uma voz tímida.
- Queira então, por gentileza, entrar e sentar-se naquela cadeira que está vazia.
Ele apontou para a carteira ao meu lado. Ela passou pela porta, ainda com a cabeça meio baixa, e sentou-se no lugar que lhe fora indicado. Todos os olhares a seguiram. E não sei explicar se isso aconteceu pelo fato de ser simplesmente uma aluna nova ou pela sua aparência. Talvez por ambos. Ela não era o tipo de garota que se via todos os dias. Pra falar a verdade, não era parecida com qualquer menina que eu já tivesse visto em toda a minha vida.
Ao se sentar as pontas dos seus cabelos tocaram a superfície da mesa. Eram de um negro profundo e um liso impecável. Parecia que não havia um fio fora do lugar, inclusive os de sua franja, como se tivessem sido perfeitamente alinhados. Talvez isso pudesse ser explicado por sua etnia. Ela certamente era asiática, provavelmente japonesa. Suas roupas eram extremamente peculiares; vestia uma camiseta rosa desbotada listrada de preto com mangas desfiadas e coisas escritas pelas laterais, uma saia de cor preta com algumas correntes que quase atingia os seus joelhos, um calçado preto que parecia ter sido roubado de uma boneca gigante e meias-arrastão que subiam desde seus pés até sumirem dentro de sua saia. A maquiagem que usava era forte, ressaltando o negro de seus olhos em contraste com sua pele clara. Usava ainda uma tiara preta com bolinhas brancas que mantinha seu cabelo atrás das orelhas e mostrava suas orelhas adornadas com alargadores rosa-escuros. É, ela era uma visão bem atípica.
- Senhorita Mizuki, creio que já lhe explicaram sobre o nosso regime escolar. – falou o senhor Roger. Ele decididamente não parecia se importar com o visual estranho da menina.
Ela assentiu rapidamente com a cabeça, mantendo o olhar fixo nele.
- Mas avalio que seja de grande importância explicar mais algumas coisas e relembrá-la de outras que possam ter sido esquecidas.
E nesse momento ele começou a falar sobre respeito aos colegas, aos professores, sobre o empenho que deveríamos ter nas matérias e todas aquelas coisas que compõem o que eu gostava de chamar de Caderno de Regras Para Evitar Conflitos Armados e Uma Guerra Mundial Entre Estudantes e Professores. Ou, se você preferir, pode falar apenas a abreviação: CRPECAUGMEEP.
Eu, enquanto isso, não conseguia desviar minha atenção dela. Não sei se era por causa das roupas ou de todo o conjunto, mas ela me despertara completamente. Não sei no que estava pensando. Nem sei dizer se estava pensando em algo e não apenas a observando com a mente vazia. Sei apenas que quando dei por mim o professor já havia iniciado o seu discurso retrospectivo e falava agora sobre o que aprenderíamos nesse ano. Ela olhava para mim com espanto e eu percebi então que deveria estar encarando-a com a expressão mais medonha possível ou até babando, o que seria uma péssima primeira impressão para se passar a alguém. Como se tivesse levado um susto, desviei meu olhar e abri minha mochila, colocando o meu caderno sobre a mesa e preparando minha caneta para iniciar as anotações.
O professor falava sobre o início da expansão marítima européia, e, naquele momento, focava-se na chegada de Cristóvão Colombo à América em 1492. Eu sempre prestei muita atenção a cada palavra que aquele homem dizia, mas naquele dia não conseguia fazê-lo. Só pensava na garota e lançava-lhe olhares furtivos para ver o que fazia. Não havia sentido atração por ela, ainda que não pudesse negar sua beleza. Era um sentimento esquisito. Não só o seu estilo havia me impressionado. Havia algo além e eu não sabia explicar o que era. Uma sensação de que precisava conhecê-la, embora talvez já a conhecesse mesmo sem saber disso.
A aula se passou como se tivesse durado 50 segundos ao invés de minutos. Só lembrava-me de palavras como “chegou”, “não sabia”, “América”, “expedição”, o que, pra mim, não fazia um discurso compreensível. A garota, por outro lado, parecia ter feito todo o meu trabalho: olhava agora para duas páginas escritas frente e verso com uma caligrafia bonita, mas que demonstrava claramente a pressa de quem a escreveu.
As outras aulas se passaram tão rapidamente quanto a primeira e o dia na escola acabou rápido. Sim, tínhamos intervalo, mas não naquele dia, pois não teríamos as duas últimas aulas já que os nossos ilustres professores de Matemática e Química haviam faltado. Uma coisa: eu detesto Física. Sempre detestei e nada nesse mundo deve ser capaz de fazer com que eu me afeiçoe a essa matéria. As aulas sempre passaram se arrastando e eu detestava ver aquele monte de fórmulas que não me serviriam para absolutamente nada futuramente. Mas a dobradinha daquela segunda tinha sido uma exceção. Como eu disse, o dia realmente acabara rápido. Todos saíram da sala, exceto por Mizuki, que ficou para falar com o professor. O que quer que fosse, não pude ouvir por conta da barulheira dos outros alunos. Fui ao banheiro após retirar-me da sala, dei uma ajeitada no cabelo e desci as escadas.
Bom, podia até não saber qual era o assunto que uma aluna nova iria querer tratar com um de nossos piores professores (o de Física, claro), mas certamente foi algo extremamente rápido, pois a vi caminhando à minha frente logo quando cheguei ao pátio e me dirigi aos portões de saída. Ouvi então, para meu desgosto, uma voz familiar vindo em minha direção. Bem, não exatamente em minha direção, mas na direção dela. Leandro, pelo visto, queria dar as boas-vindas à garota nova.
- E aí, Mikizukizi – falou ele em tom de deboche – O que te trás da sua terra de japorongas para esse belo lugar?
Eu parei, embora nenhum dos garotos do grupo parecesse ter me notado. Mizuki estava de costas para mim, o que me impedia de ver sua expressão, apesar de poder jurar que sabia como ela reagiria.
- Ah, é bom saber que o Japão é bem conhecido por aqui – respondeu ela de forma pacífica.
- Não seja tonta, garota. Não é porque você tem um cabelinho escorrido e usa essas roupas de revoltada que me assusta.
E nesse momento ele se aproximou dela, levantando o dedo para o seu rosto e continuando a falar.
- Escute bem minhas palavras. Não gosto de gente igual a você! – o tom dele se tornara claramente mais agressivo e tive medo que ele pudesse fazer alguma coisa – A “Taxa da Paz” serve pra você também e é bom que esteja com ela amanhã na entrada, senão...
- Senão o que? – ela cruzou os braços e se aproximou dele, ficando a poucos centímetros de seu rosto – Vai me bater e usar seu papaizinho para esconder que agrediu uma garota? Pois vá em frente. Você não é o único que tem contatos.
A garota tímida que se mostrara logo no início da primeira aula havia sumido. Parecia realmente outra pessoa no corpo dela. De repente, como se as palavras tivessem chegado até mim em um tempo mais longo que o normal, eu pensei: como ela sabia do pai dele? Quer dizer, ela era nova aqui (provavelmente nova no país). Como tinha esse tipo de informação? Ela então sussurrou coisas que eu não consegui ouvir, mas, segundos depois, concluí que deveriam ser horripilantes, pois o grupo a deixara em paz e saíra correndo, todos com uma expressão de pavor. Devo admitir: aquilo me deixou com muito medo. E o pior de tudo veio depois.
- Peter? O que foi? Por que está parado olhando para mim?
Meu coração congelou naquele exato momento. Meu nome, como ela sabia meu nome? Não tínhamos mais chamada, pois os professores haviam decorado nossos nomes e sabiam quem éramos. Não tínhamos carômetro. Ela não havia falado com ninguém o dia todo, pois eu fiquei de olho durante as três aulas (sim, eu assumo que não consegui desviar meus pensamentos dela o dia inteiro). Então como? Será que, de alguma forma absurdamente incrível, ela tinha perguntando a alguém sem que eu tivesse visto ou então falara com o professor depois da aula apenas para isso? Mas se fora isso, por quê? Por que ela iria querer saber meu nome?
- Peter? – ela repetiu, tentando encontrar meus olhos que pareciam estar perdidos.
- O-o-oi! – finalmente a palavra saiu – Oi, Mizu...
- Mizuki!
- Isso mesmo! Mizuki! Oi!
Eu estava realmente nervoso e achei que poderia estar tremendo mais que uma ovelha recém-tosqueada jogada no meio do Alasca.
- Aqueles caras são realmente uns idiotas. Não sei por que ainda existem pessoas assim!
Ela falava com uma indignação que me admirava. Lembrava-me alguém...mas quem? Antes que eu pudesse chegar à conclusão vi-me forçado a responder algo.
- Sim, sim. São realmente estúpidos.
- Não precisa ficar nervoso. Não vou fazer com você o mesmo que fiz com eles.
Ao dizer isso o sorriso dela se abriu de uma forma que pareceria extremamente maléfica se não fosse tão infantil e surpreendentemente inocente. Pensei em perguntar o que ela fizera a eles, mas tive medo da resposta e pouco tempo para colocar as palavras numa frase que fizesse sentido. Ela se aproximou mais de mim.
- Sei que já sabe quem eu sou, mas isso não é o bastante – aquilo, não sabia por qual razão, soara ambíguo – Mizuki Takashi Kyouda, prazer!
Estendeu então sua mão e a deixou ali parada, por alguns segundos, esperando uma reação minha. Meus pensamentos estavam a mil e a única coisa que consegui fazer foi apertar-lhe a mão e dizer:
- Peter!
- Peter...
- Peter Leon Julius!
- Prazer em conhecê-lo então, senhor Julius – disse ela com um sorriso no rosto enquanto nossas mãos permaneciam dadas.
Eu então me lembrei com quem ela se parecia em sua indignação e ousadia: comigo.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O fácil é não fazer

É, eu queria desistir. Mas só dessa vez gostaria de desistir de algo diferente. Queria desistir de desistir. Sem dúvida alguma seria muito mais agradável. Mas, ao invés disso, eu continuo desistindo das coisas que gosto e arranjando novas pelas quais lutar (que, obviamente, logo também serão esquecidas). Não sei se é inconstância ou falta de objetivos, só sei dizer que é chato. Bem, nem sempre é exatamente chato, mas às vezes realmente me irrita. E por que, então, não fingir que está tudo bem e desistir mais uma vez? Simples! Porque não dá pra ignorar. Se bem que sei bem o que farei. Prometerei pra depois quebrar a promessa, farei para depois desfazer e me apaixonarei para depois me cansar. É sempre assim, nunca muda. Talvez não tenha que mudar, embora parecesse legal fazer as coisas diferentes ao menos hoje. "Você não estudou, não limpou o que tinha que limpar, não leu aquilo que tinha que ler, não parou com o que prometeu parar, não fez o que planejou fazer, não disse o que pensou em dizer, não mudou o que queria mudar... e blá, blá, blá". Um dia eu talvez comece a agir de outra forma. Talvez eu faça aquilo que quiser fazer e realmente ame algo, sem somente me apaixonar. Porque paixão é passageira, enquanto o amor para sempre dura. E eu gostaria de amar mais, não só me apaixonar, porque muitas vezes isso realmente cansa. Mas que poder tenho eu sobre minhas decisões? Afinal, elas sempre se decidem sem a minha opinião e tomam atitudes sem que eu conceda permissão. Logo, eu não formo o que sou, mas sou formado por aquilo dentro de mim que desconheço. E por isso não amo, pois cada hora descubro uma nova verdade que brevemente se tornará a maior mentira já contada. Mas apenas um dia seria bom acordar e por fim à uma coisa que comecei. Ou pelo menos continuar com ela por mais um tempo. Enquanto isso não acontece, simplesmente falo do que não sei e finjo não saber o que realmente sei. Ou talvez nem saiba, pois me engano a todo momento. Só acho que cedo ou tarde deixarei de fazer. Não por medo ou mesmo por qualquer receio. Mas só porque estarei cansado demais e certamente será mais fácil nem começar. Mais fácil nem crer que vai dar certo, tampouco fazer com que dê.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Minha luta!

Por dezessete anos (quase dezoito) me disseram que Deus e o Diabo estão numa eterna luta, presos numa rivalidade que simplesmente não tem fim e que nós, meros seres humanos, estamos no meio do campo de batalha. Insinuaram que éramos apenas bonecos pré-programados pra escolher um dos lados e dar o melhor de si para o seu exército. Por muito tempo acreditei nessas informações e, tomando-as como verdade absoluta, escolhi o meu lado e por ele guerreei. Todavia, como se de repente abrisse os olhos, vi que o que eu considerava e apregoava como justo não era exatamente esse mar de rosas e que talvez meu general não estivesse tão certo quanto eu gostaria de acreditar que ele estava. Não suportei as atrocidades que via meus companheiros cometerem e então deixei o time.
Fiquei por mais um tempo sem ter para onde ir, sem saber o que fazer, apenas ouvindo os gritos de horror e também a exaltação de cada exército a cada chacina que cometiam. Nenhum deles parecia estar indo pelo caminho certo e ambos tinham seguidores que pareciam tão cegos e obcecados com aquela guerra que já não podiam mais ver o sentido de lutar, fazendo-o apenas pelo prazer da vitória. Perguntava-me como poderia um ser onipotente e tão sublime como Deus estar metido em tal coisa, parecendo demonstrar exatamente o oposto de sua grande sabedoria. Claro que pelo que ouvimos poderíamos esperar isso do Diabo, mas Deus era apenas amor, no entanto não era aquilo que eu estava vendo. Foi então que eu entendi e pude ver: haviam me enganado o tempo todo. Não havia Deus ou Diabo lutando, apenas humanos convictos de que seus ideais fariam o mundo melhor e sedentos de reconhecimento de sua superioridade inventada. Pessoas como nós que esculpiram sua moral falha e fizeram o possível para impô-la a todo ser vivente, como se ela representasse a plenitude incontestável e inabalável da perfeita e almejada ordem social.
Por dias e noites meditei sobre tudo aquilo e meu mundo desmoronou diante dos meus olhos. Mentiram pra mim, disseram tantas coisas que não eram verdades e me mostraram um Deus tão humano e falho quanto eu. Mas eu não podia me render, não podia simplesmente ignorar o terror que acontecia fora do meu mundo particular e me excluir do universo comum. Então, como se fôlego de vida fosse soprado em mim, eu me reergui e voltei a lutar, só que dessa vez com um objetivo diferente. Desde então mantenho meu ideal e minha batalha infindável contra o mal que se encontra dentro de mim.
Luto não mais contra alguém, mas contra tudo aquilo que me faz querer regredir. Luto contra os olhares preconceituosos que às vezes lanço a algumas pessoas, contra as palavras maldosas que eventualmente possam sair da minha boca e dos sentimentos prejudiciais que eu possa estar cultivando dentro de mim. Luto contra a idéia de superioridade na qual por tanto tempo me fizeram acreditar, contra a intolerância em relação aos pensamentos diferentes dos meus. Mais ainda, luto para acreditar cada dia mais no amor e nas coisas belas que a humanidade pode fazer, a despeito de todos os males que já tenha causado ao longo da história. Luto para ter fé e ver um mundo melhor, perfeitamente atingível, onde todos se respeitem mais e as diferenças apenas componham um vasto leque recheado de belezas culturais. Luto para ter forças para continuar a lutar por aquilo em que minha luta me faz crer, para ser o melhor que posso e ajudar as pessoas a se tornarem também o melhor de si mesmas, assim como elas também me ensinam muito todos os dias.
Contudo, ainda não consigo deixar de me questionar se a minha luta não está indo pelo lado errado e se um dia eu não serei julgado por isso. É, talvez eu realmente esteja muito enganado e devesse somente ter permanecido naquela antiga batalha. Mas, assim como eles, quero também ter o direito de lutar pelo que acredito ser importante e se isso não for o bastante, acho que no fim das contas eu apenas falharei. No entanto, como muitos dizem, falharei sabendo que tentei e jamais me renderei, tampouco lutarei numa guerra que para mim não tem o menor sentido. Afinal, a minha luta é e sempre será, a partir de agora, contra apenas um inimigo: eu mesmo!